Em cada momento de sua carreira, Elis demonstrou
perfeccionismo, fosse nas rádios fosse nos discos. Nos palcos também não era
diferente.
Desde suas pequenas apresentações no Bottles, até suas apresentações em ginásios, Elis se entregava aos
palcos como ninguém.
Sempre original e atenta aos mínimos detalhes, Elis criou,
em vida, produções artísticas e espetáculos de grande sucesso de público e
crítica.
Os shows no beco
Os shows no beco das garrafas podem ser considerados os
primeiros espetáculos de Elis. Apesar de não ter tanta produção se comparado ao
seus outros espetáculos, foi no beco que Elis ganhou grande visibilidade na
cidade carioca. No palco, Elis cantava de tudo: Desde bossa-nova até samba e
jazz.
Com os shows da pimentinha, Miele e Boscôli viram seu negócio
crescer significativamente, tornando o Bottles
um sucesso das noites cariocas.
O fino da bossa
Logo depois da histórica apresentação no I Festival de
Música Popular Brasileira, a pimentinha passou a ser sondada pelas maiores
emissoras de TV, para participar e apresentar programas e especiais. O primeiro
de seus sucessos televisivos veio em 1965, com o “Dois na Bossa”.
No palco, Elis apresentava o programa ao lado de seu amigo
Jair Rodrigues. No formato de um show, o programa revezava apresentações de
Elis e Jair com a apresentação de outros artistas que ficaram muito conhecidos
graças ao programa e deu popularidade a grandes compositores e músicos de MPB.
Elis no "Fino da bossa", e ao seu lado, como convidado, o consagrado Lupicínio Rodrigues.
Junto o grupo Zimbo Trio, Elis e Jair cantavam animadamente canções de jazz, MPB, samba e Bossa nova. A apresentação da dupla era sempre a hora mais esperada do programa. O programa, que era voltado para o público mais fino e intelectual, fez tanto sucesso que deu origem a um LP de grande vendagem. Com grande faturamento e um sucesso de crítica, O fino da bossa consagrou Elis como uma das maiores vozes da música brasileira.
Falso Brilhante
Já consagradíssima no mercado fonográfico e com uma
trajetória incrível, em 1975 Elis arquitetou um espetáculo onde contaria toda a
história de sua carreira até ali.
Para ambientar toda a história de sua vida artística, Elis
escolheu o circo, utilizando elementos do mundo circense na cenografia e na
montagem do show. Não haveria ambiente melhor para apresentar a vida de uma
artista tão completa como Elis Regina.
Com canções como “Velha Roupa Colorida”, “Como nossos pais”,
(ambas do cantor e compositor Belchior, que ganhou popularidade após as
gravações de Elis com suas letras), “Fascinação”, “Quero” e muitos outros
clássicos, O Falso Brilhante foi um sucesso de público e crítica, tornando-se
um dos espetáculos mais rentáveis do Brasil, entrando para a história da música
brasileira como um dos mais importantes espetáculos da MPB.
Transversal do Tempo
Um dos shows que mais mostra a presença da arte de Elis na
luta contra o regime militar, foi outro grande espetáculo de Elis. Além da relação com política, o espetáculo também envolvia discussões sobre sociedade e discussões que até hoje se mantém atuais.
Com músicas
como “Deus lhe pague”, “Cartomante”, “Sinal fechado” e outros, boa parte das
composições mostrava críticas que batiam de frente com a ditadura militar. Em transversal do Tempo, Elis mostrava sua enorme potência vocal, utilizando canções que mostra a dimensão e a qualidade de sua voz. Com
uma cenografia e uma caracterização muito bem trabalhada, Transversal do Tempo
foi uma das turnês de menos duração de Elis. Logo depois, viria a turnê “Essa
Mulher”.
Essa mulher
Em 1979, após o lançamento do disco “Essa mulher”, Elis
organizou uma série de shows em todo o Brasil, uma turnê de nome homônimo.
Com uma cenografia despreocupada e dirigida por Oswaldo Mendes,
o show tomou estrada, levando a voz de Elis para cidades do interior de São Paulo
e outras cidades Brasil afora.
Vestida num marcante vestido rosa, com uma
orquídea nos cabelos (a flor acabou se tornando a marca do show) e de cabelos
longos, Elis interpretou pra dezenas de cidades, canções do disco novo, além de
alguns sucessos antigos também, como “Conversando no bar” e “A comadre”. Do disco
novo, canções como “Agora tá”, “Cai dentro”, “Eu, hein rosa!” e a canção que
dava nome ao espetáculo, “Essa mulher”.
Nesse show, Elis estava mais leve nos palcos, mais entregue
às músicas. Elis sendo Elis. Assim como o disco, o show também foi um sucesso
de público e de crítica.
Saudade do Brasil
Com a missão de contar um pouco da história e da sociedade
brasileira, Saudade do Brasil foi mais um grande sucesso de Elis. O show, que
estreou no canecão, Rio de Janeiro, contava com 25 pessoas no palco: 13
bailarinos, 11 músicos e Elis.
Em Saudade do Brasil, Elis interpretava canções como “Alô,
Alô, marciano”, “Maria, Maria”, "Moda de sangue", "Marambaia" e "Canção da américa".
O show, que foi encomendado pela casa de espetáculos, foi mais
um sucesso de crítica e público na carreira de Elis, chamava a atenção pela
originalidade das músicas e apresentações. Meses depois de sua estreia, um
disco de nome homônimo ao espetáculo foi lançado pela gravadora Warner. Assim como
o show, o disco teve uma boa vendagem e fez muito sucesso.
O Trem Azul
O último de seus espetáculos, o Trem azul foi um show criado
por Elis em 81, ano anterior à sua morte. O espetáculo, dirigido por Fernando
Faro, tentava passar a ideia de que Elis era uma estrela de TV, e suas apresentações
revezavam-se em meio à vinhetas de programas televisivos. Elis levou seu
espetáculo à diversas cidades do país. Em todas, o show foi um sucesso.
Entre as canções escolhidas por Elis para serem interpretadas
no show, estavam presentes sucessos de seu último disco, “Elis”, de 1980. Músicas
como: “Aprendendo a jogar”, de Guilherme Arantes, “O medo de amar é o medo de ser
livre”, de Beto Guedes, “Me deixas louca” “Se eu quiser falar com Deus”, de
Gil, O que foi feito devera (de vera)”, de Milton Nascimento, e a canção que dá
nome aos espetáculo, “O Trem Azul”, de Lô Borges e Ronaldo Bastos, marcaram as
últimas apresentações da vida de Elis.
No seu último show, Elis estava mais entregue ao público. No
palco, Elis fazia questão de mostrar mais interação com a plateia e os músicos.
Por não haver praticamente nenhum gravação em vídeo, o show
se tornou uma lenda da música popular brasileira, fechando com chave de ouro
uma carreira tão genial e completa como a da pimentinha.
Bônus:
Paris, Montreux e London
Com já citei em um dos textos, Elis não se limitou apenas à
cantar para o Brasil. Quando viu que podia atingir públicos maiores, alçou voo
e levou sua voz para países internacionais. Sua primeira investida na carreira
Internacional foi em Paris, na França. Lá, Elis chegou a cantar na mais
importante sala de espetáculos de Paris, o Cinema Olympia. Em suas bem
sucedidas apresentações na França, Elis cantou Bossa-nova, MPB e Jazz, levando
representatividade a música brasileira aos Parisienses.
No ano seguinte, em 1969, Elis levava sua voz à Londres,
onde gravaria um disco com o renomado maestro Peter Knight e sua orquestra. O
disco, que recebeu o título de “Elis Regina in London”, teve boa vendagem tanto
no Brasil quanto lá fora. Uma curiosidade interessante, é que o disco gravado
em Londres só foi lançado em 1982, após seu falecimento.
Outra apresentação que merece ser lembrada aqui é a
histórica participação de Elis no 13° Montreux Jazz festival. No show, Elis
canta alguns de seus maiores sucessos, além de alguns clássicos da música
brasileira, como “Asa Branca” e “Garota de Ipanema”. A apresentação de Elis
ganhou destaque no festival daquele ano.
O show não foi aprovado por Elis para ser lançado no Brasil, mas não teve jeito. Em 1982, o show, que hoje pode ser
facilmente encontrado na internet, teve sua gravação lançada em disco pela gravadora Elektra Records.
É interessante perceber que, apesar de algumas
músicas se repetirem em diferentes espetáculos, em cada espetáculo, era criado um contexto
diferente, para uma Elis Regina diferente, a mesma artista, em jeitos, gestos e
interpretações diferentes.
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