Em 1980, A Rede Globo, aproveitando o momento de grande
agitação na música brasileira, impulsionada pelo surgimento de novos nomes e
novos estilos, lançou o especial “Série Grandes Nomes”, que nada mais era que
uma série de programas, exibidos mensalmente, que exibia shows dos mais
diversos artistas, cada um com seu estilo. O programa aproveitava a diversidade
musical que chegava no país e apresentava de tudo: Desde a Bossa-nova de João
Gilberto, até o Rock nacional de Rita Lee. Nos dias de hoje, o programa é
considerado um clássico, e os shows são uma raridade.
Entre tantos outros artistas hoje consagrados, Elis foi uma
das escolhidas para representar a MPB no programa. O programa com Elis foi um
sucesso de audiência.
Como hoje não existem muitos registros das apresentações de
Elis nos palcos, o show, disponibilizado em DVD depois de muitos anos de sua
exibição original na TV, se tornou uma salvação para os fãs mais novos, que não
teve a chance de assisti-la nos palcos.
Já consagradíssima no merca fonográfico, Elis deu um show em
cena. No especial, que recebeu o nome de “Elis Regina Carvalho Costa” (assim
como os outros shows recebiam o nome completos dos respectivos artistas que
atuariam naquela noite), Elis canta suas mais famosas canções.
Elis passeia entre os sucessos de sua carreira, desde seu reconhecimento no
primeiro Festival de música popular Brasileira (com a citação de "arrastão" na abertura do programa) até seu último disco, “Elis”,
lançado naquele mesmo ano da exibição do programa.
Grandes composições de Gilberto Gil, Milton Nascimento, e
Ronaldo Boscôli ganharam destaque no show. Raras vezes Elis se entregou tanto aos palcos como aconteceu nesse show.
Umas das apresentações que mais chama a atenção no especial
é a interpretação de “Atrás da Porta”, de Chico Buarque. Enquanto canta, Elis
dá vida a música de uma maneira indescritivelmente incrível. A música que narra
a separação de um casal, recebe a caracterização e a interpretação emocionante que só
Elis consegue passar para uma canção. Elis não apenas canta a música, mas encarna a letra, engole a melodia e os versos, enquanto interpreta o drama da separação. Uma das melhores e, sem dúvida, a mais emocionante apresentação de toda a série.
Na faixa seguinte, Elis canta “Cadeira Vazia”, de Lupicínio
Rodrigues. A canção, que me passa a leve impressão de tentar entrar no enredo
da música anterior (levando em consideração o fato de que, as histórias de
ambas canções se encaixam, como se narrassem uma trajetória), narra a volta
de alguém que se arrepende de ter ido embora, voltando para os braços de seu cônjuge. É outra
apresentação incrivelmente emocionante que recebe os merecidos aplausos da
plateia presente no show.
Outra faixa que merece destaque é "Essa mulher". Com uma
melodia melancólica, a letra de Ana Terra e Joyce narra a vida pacata de uma
senhora que se divide entre a vida doméstica, a maternidade, o casamento e a
vida de artista. Segundo Elis, em entrevistas dadas antes do show, “Essa
Mulher” é uma com a qual ela se identificava bastante, e isso claramente a
ajudava na interpretação da canção. Elis simplesmente era Essa Mulher, que vivia a dor
tão bonita de ser cantora e ser artista.
Em “Alô alô, Marciano”, letra de Rita Lee, Elis narra uma
conversa com o ser que vive em Marte, contando tudo o que está acontecendo no
mundo e ao seu redor, e, no refrão, a pimentinha mostra, de maneira caricata, o
quanto está cada vez mais down, a High Society. Mergulhada na maluca (e
genial) letra de Rita, Elis interpreta uma canção que cai muito bem aos dias de
hoje.
Em todos os programas da série, cada artista tinha direito a
escolher um (ou mais) convidados especiais para acrescentar ainda mais nos
espetáculos. Elis escolheu seu (até então) marido, César Camargo Mariano.
“Eu escolhi pra me apresentar, pra me acompanhar, pra que
vocês conhecessem melhor o trabalho, um dos músicos que mais me entendeu, que
mais me compreendeu nessa vida longa de 20 e poucos anos de cantar por aqui e
por ali... César Camargo Mariano” Assim, Elis justifica sua escolha.
Depois da entrada do convidado, Elis dá um show de récita
vocal com “Rebento”, de Gilberto Gil, lançada no seu último disco, “Elis”, de
1980. Como um trovão dentro da mata, Elis mostra toda sua potência
vocal nessa apresentação ao som do piano de César.
Para encerrar o incrível espetáculo com chave de ouro, Elis
escolheu a canção de Gonzaguinha, “Redescobrir”, lançado no álbum “Saudade do
Brasil”. Elis convida ao palco dançarinos amadores, e, como se fora brincadeira de Roda,
Elis faz um grande círculo em volta do palco. Com todos, incluindo a
plateia, brincando numa grande brincadeira de Roda, Elis encerra o grande
espetáculo.
Além destas canções citadas, Elis nos contempla com outros sucessos como “Conversando no Bar”, “Fascinação”, “Agora tá”, e
“Aquarela do Brasil”. Em todas as faixas, uma interpretação diferente, um jeito
original e genial de cantar e de interpretar uma canção.
Apesar da injusta omissão de outros sucessos inesquecíveis de Elis,
como “Trem Azul” e “Aprendendo a jogar”, O especial, que hoje pode ser
facilmente achado na internet completo, ainda pode-se considerar umas das
maiores pérolas da TV brasileira. Um verdadeiro tesouro para os amantes da arte e da interpretação da
pimentinha.
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